Quando um bebê nasce, ele chega ao mundo com um relógio biológico ou ritmo circadiano que ainda não está completamente ajustado. Essa falta de organização explica por que muitos recém-nascidos trocam o dia pela noite, o que acaba sendo um desafio comum para muitos pais. De acordo com a neurocientista Andréia Tambosi, a partir dos quatro meses, esse relógio começa a se regular, marcando um ponto crucial no desenvolvimento neurológico do bebê.
Durante os primeiros meses de vida, o bebê tem um sono polifásico, ou seja, ele dorme diversas vezes ao longo do dia e da noite, sem uma distinção clara entre esses períodos. Isso ocorre porque o bebê ainda não consegue diferenciar o dia da noite, uma habilidade que começa a se desenvolver gradualmente. “Imagine que o bebê nasce com um relógio, mas sem ponteiros”, compara. É somente a partir dos quatro meses que esses “ponteiros” começam a se formar, permitindo que o bebê comece a regular seu ritmo de sono.
Esse período de transição, muitas vezes mal interpretado como uma regressão do sono, é na verdade um marco neurológico. “Antes dos quatro meses, o bebê tem apenas dois estágios de sono: o leve e o profundo. Com o amadurecimento do ritmo circadiano, ele passa a ter quatro estágios de sono, incluindo o sono REM e as fases do sono não-REM”, explica Andréia. É por isso que, nesse período, o bebê pode começar a acordar a cada 40 minutos, que corresponde a um ciclo completo de sono para ele, em contraste com os 90 minutos de um adulto.
A neurocientista também enfatiza a importância de estabelecer uma rotina consistente e previsível para ajudar o bebê a se adaptar a essa nova fase. “Os pais devem enviar sinais claros para o cérebro do bebê, como manter o ambiente iluminado durante as sonecas diurnas e escurecer completamente o quarto à noite. Isso ajuda a diferenciar o dia da noite e regula o sono do bebê”, aconselha.
Outro ponto crucial é a paciência e a consistência na criação de novos hábitos de sono. “Ensinar o bebê a dormir sozinho, sem a presença dos pais, pode ser desafiador, mas é fundamental para evitar que ele se acostume a acordar a cada ciclo de sono e exigir atenção”, alerta ela. Além disso, a introdução gradual de sons relaxantes, como ruído branco, pode ajudar a criar um ambiente propício para o sono, mas sempre com cuidado para não exagerar na altura do som.
A partir dessa fase, os pais devem estar atentos aos sinais de sono do bebê, que começam a surgir a cada 1h30 a 2h. “É essencial que o ambiente esteja adequado, com uma temperatura confortável, para garantir que o bebê consiga descansar bem”, completa a neurocientista.
Esse período é fundamental para estabelecer as bases de uma rotina de sono saudável, que irá evoluir conforme o bebê cresce e passa por novas fases de desenvolvimento. Com dedicação e a aplicação dessas orientações, os pais podem ajudar seus filhos a ter um sono mais regulado e tranquilo, refletindo positivamente no bem-estar de toda a família.
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